KADIWEU
Os descendentes vivos do povo Mbaya-Guaicuru são os Kadiweu. Atualmente eles vivem nas terras indígenas no munícipio de Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul. O território de 539 mil hectares é divido entre quatro povos, com uma população total de 1697 pessoas, segundo o portal Terras Indígenas do Brasil

Fonte: Portal Terras Indígenas do Brasil
Terra indígena Kadiweu - Área demarcada pelo decreto número 89.578, de 1984
É importante ressaltar que o território homologado no decreto número 89.578, de 1984, além de vasto, apresenta diversidade de biomas, como Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, o que permite muitas formas de subsistência. O coordenador executivo do Centro de Trabalho Indigenista, o CTI e pós doutorado em Antropologia, Jaime Siquieira. Aponta algumas formas dos Kadiweu tocarem a vida.
“As mulheres produzem uma arte sofisticada que é bem conhecida e uma das mais valorizadas dentre os indígenas”, diz Jaime que conviveu com o povo Kadiweu para pesquisa da dissertação de mestrado intitulada: Este campo custou o sangue dos nossos avos: a construção do tempo e do espaço Kadiweu.


Cerâmica Kadiweu
Foto Timblindim
Desenhos publicados em VIDAL, Lux (org.). Grafismo Indígena. Studio Nobel, Fapesp, Edusp, SP, 1992
Jaime também pôde observar uma prática comum na hierarquia do povo: O arrendamento das terras para criação de gado, que acontece desde os anos 50. Ele aponta alguns problemas nessa relação, que além de ilegal, cria desigualdades dentro da aldeia. “Muitas famílias já se acostumaram com a renda e estão deixando de lado as atividades cotidianas, como o trabalho na roça”.
As desigualdades geradas pelo dinheiro que vem de fora das terras indígenas pode ter uma explicação histórico-cultural. Segundo Jaime, uma das possíveis interpretações é que os Guaicurus já possuíam um modelo social estratificado e as diferenças vistas nos dias atuais são um reflexo do sistema no qual o povo sempre viveu.
“Cabe um tipo de interpretação, que tentei usar no meu mestrado na qual renda é distribuída de acordo com as castas sociais”, diz Jaime. Que observou a divisão em outros momentos. “Essa prática se reflete em alguns rituais internos também” e conclui: “É uma mistura da herança cultural e pressões da cidade envolvente que cerca as terras”.
E mesmo com tantas influências externas, Os Kadiweus seguem apegados às tradições e, assim como outros povos do Brasil, continuam utilizando o idioma nativo que os tornaram conhecidos como, o Guaikurú, que não faz parte das grandes famílias linguísticas do Brasil e foi pouco estudado.
AS TERRAS INDÍGENAS DE TODO O BRASIL
Segundo Jaime a maioria das terras indígenas homologadas estão na Amazônia. Esses foram territórios que percorreram todo um caminho burocrático. “É um processo demoradíssimo, que leva em média 20 anos”. O processo começa com a identificação dos direitos dos índios sobre aquele terreno. Depois passa por várias análises administrativas, chegando na homologação em cartório.
Toda a burocracia no processo gera uma demanda latente, como observado por Jaime: “Existem muitas terras para serem regularizadas no Nordeste, no Sul e no Mato grosso do sul”. A demora acarreta em pressões sobre todos os territórios, como madeireiras que tentam explorar as florestas e a poluição gerada por garimpeiros e agronegócio, que impactam diretamente na vida os povos indígenas.
A situação é um reflexo da fragilidade da Fundação do Índio, a Funai, principal órgão de proteção ao índio do Brasil. A fundação sofre com problemas que vão desde a alta rotatividade de cargos importantes a falta de concursos para contratação de novos funcionários.
Para cobrir o espaço deixando pela Funai, as ONGs atuam: “Tem se investido, principalmente as ONGS em desenvolvimento sustentável”, diz Jaime, que ainda cita a formação de agentes, elaboração da gestão ambiental e do território, de forma já independente da Fundação do Índio.
Mesmo com todos esses problemas, há uma recuperação da população indígena. De acordo com Jaime, a população voltou a crescer. “Houve crescimento nos últimos anos, hoje são quase 1 milhão de pessoas, segundo o IBGE, quando já chegou a ser de 100 mil nos anos 50”, um avanço.
E os povos indígenas, acima de tudo, são resilientes. Sejam os Guaranis do Sudeste, cercados pelas cidades e sem terem suas terras reconhecidas, os Guarani Kaiowá e os Kadiweu, no Centro Oeste lidando com a pressão do agronegócio. As aldeias da Amazônia, que lutam contra madeireiras, garimpeiros e o crescente tráfico na região. Os índios do Brasil buscam somente a terra que é deles e poder, quem sabe um dia, viver em paz.